SEMILOAD – Mas por que você gosta das bandas das quais você gosta?

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* Nosso “Long Read” de hoje vai tentar entender seu gosto musical escavando lá dentro da sua alma e buscando na sua posição fetal por que você é assim em relação às bandas das quais você tem admiração.o que você gosta. Não é isso, mas é mais ou menos isso. Dora Guerra, articuladora-parceira da newsletter espertíssima Semibreve, foi procurar saber com a ciência (ah, a ciência!) o que nos leva a preferir, dentro da enorme variedade de estilos musicais que existem, um tipo tal, um som tal, uma banda tal, enfim. O que nos faz se gostar música que a gente gosta. Qual a conclusão a que ela chegou?

radiohead

Afinal, quando é que a gente define nossos gostos musicais?

Há um tempo, venho me perguntando de onde vêm os nossos gostos musicais. Tive uma motivação própria, claro: às vezes, me pego refletindo sobre como algumas músicas servem de um conforto enorme para mim e como certos elementos são infalíveis (por exemplo, eu adoro tudo que tem um piano marcante). Por que será? O que faz a gente gostar do que gosta? Quando isso tudo é formado?

Bom, eu pesquisei sobre o assunto, confiei nos cientistas responsáveis (mal sabe nosso presidente como é gostoso confiar na ciência!) e vou contar um pouco mais agora.

Segundo o musicólogo Nolan Gasser um estudo do “New York Times”, foi nesse momento – em torno dos 13/14 anos – que você ouviu as músicas mais importantes da sua vida.

De acordo com Seth Stephens-Davidowitz, para o jornal americano: “Considere, por exemplo, a música ‘Creep’, do Radiohead. Essa é a 164ª música mais popular entre os homens que estão agora com 38 anos. Mas não está entre as 300 primeiras para a geração nascida 10 anos antes ou 10 anos depois. Observe que os homens que mais gostam de “Creep” agora tinham cerca de 14 anos quando a música foi lançada, em 1993”.

O fim da puberdade é, para a maior parte dos estudiosos, o período em que você realmente forma seu gosto musical – o momento-chave. Eu bati um papo com Patricia Gomes, mestre em psicanálise sobre isso, e ela tem algumas teorias: segundo ela, é um momento muito fértil para que a música (e a arte) entrem para o ajudar a decifrar o que está acontecendo com você – entender suas melancolias de adolescente, digerir as mudanças da sua cabeça e até processar suas várias descobertas sexuais.

Não só isso como é também o momento em que você está se construindo, se deslocando dos seus pais e tentando criar algo que é seu. É quando estamos definindo as nossas identidades. Com base no que gostamos, mas também no que parece atraente para o mundo externo. Aí, o que você gosta de ouvir é escolhido a dedo, aspiracional até – você não ouve só o que quer ouvir, mas quem quer ser.

E tem a coisa das experiências, também: à medida que você vai vivendo determinados acontecimentos sozinho pela primeira vez, as músicas também vão se colando a essas experiências e criando uma memória afetiva muito potente. Em outras palavras, o seu primeiro amor teve música, sua primeira decepção amorosa também – os outros, talvez, nem tanto.

Assim, seu gosto musical se concentra muito facilmente na sua juventude, um período em que você também está muito mais aberto a novidades (mais que isso: não quer se definir só pelo “antigo” e o que gerações anteriores cultuam) e topa explorar gêneros e artistas como nunca.

Quanto mais se pesquisa, mais essa parece ser a regra: um outro estudo, este do Spotify, tentou avaliar se nosso gosto musical muda à medida que mudamos de cidade/estado e concluiu que, apesar de tentarmos descobrir novas músicas, nada domina o nosso gosto como o que foi lançado entre nossos 12 a 22 anos de idade. Chuto que isso se aplica não só à música, mas à experiência artística como um todo – explica, inclusive, porque eu e meus amigos nos reunimos frequentemente para ver clipes dos anos 2000/2010 e falar besteira. Existe algo intrínseco a esses vídeos que é quase inexplicável – não conseguimos descrever aquilo que sentimos ao mesmo tempo, sempre que um deles aparece na TV. Mas o sentimento está lá para todos nós.

Para você que já virou gente – já decidiu seus artistas preferidos, comprou os vinis que queria, tem camiseta de banda no armário –, isso não significa que você não possa amar uma música como se fosse a primeira vez. Significa, provavelmente, que você já definiu inconscientemente o que lhe atrai ou não em música. Tipo como eu falei: algo muito pianudo entrou na minha cabeça na adolescência e, por isso, devo estar fadada a gostar do que tem piano.

Mas sempre há tempo para o novo. E, se tudo falhar, corre para aquele clássico dos seus 15 anos – vivemos um momento em que o conforto faz falta. E o seu clássico dos 15 anos nunca falha.

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